Na Mesa

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"Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê." ♪

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Exercício de não surdez

Ouço passos
Quem derá ser os seus

Me falta, ainda

Ouvi que tudo passa tomando chá ou cachaça
Mas minha dor de cabeça cruel
Só se afasta quando assumo o meu papel
E viro a noite a escrever
Então viro a noite
E viro poeta
Viro o copo
E viro rei
Todos viram o copo
Com sorrissos, cigarros e dedos amarelos
Há felicidade
E quase tudo está certo
Me falta virar mais uma coisa apenas:
Virar o teu amor!

Coragem

Conhecer
Gostar
Tornar essencial
Amar
Sentir Falta
Rir
Chorar
Sumir
Tolerar sumiços
Conhecer
Ouvir
Compreender
Permirtir
Sentir
Perceber
Tentar discernir
Digerir
Decidir
Tomar Coragem
Preparar
Raciocinar
Falar
Esperar
Esperar
Esperar
Falar de novo
Compreender
Aceitar
E tudo continua como continuava, ao menos deveria continuar continuando

Coragem
Buscar
Agir
Corar
Busquei
Agi
Corei
E estou novamente a esperar

"Se um dia for pra ser, UM DIA, será" (B.C.)

Deixa estar

Sobre o ofício

As vezes é complicado
Na maior parte não é complicado
Mas a maior parte é publicado
Não são todos
Podem ser modificados
Rasgados
Queimados
Usados ou não
Faz sentido
Ao menos pra mim
Por vezes nem pra mim
Mas não precisa causar nada
Apenas existir

Onde brilhem os olhos seus

Dentro do meu quarto
Escuto o barulho do vazio silêncio dentro de mim

Às vezes sei como começa
Às vezes só sei como começa
Às vezes nem sei como começa

Por vezes tenho idéia
Por vezes só tenho a idéia
Por vezes tenho uma idéia
Por vezes não tenho idéia nenhuma

Tenho a mim
O papel
A lapiseira
O vazio
O silêncio
A luz
O ventilador
O computaor

Tenho a mim
E em mim
Tenho um amor
Tenho consciência
Me entrego

Não mais tenho o vazio
Nem ele a mim

Me ponho mais uma vez
A escrever
Viajar
Sonhar

Não tenho mais o vazio
Nem ele a mim

Lugar da minha escrita, viagem e sonho:
O novo
O antigo
O velho
O velho
Onde brilhem os olhos seus

Um outro céu
O silêncio tem a mim
Você também

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O poeta não morreu, acredite!

Olhar o mundo
Com a coragem do cego
Ler da tua boca palavras
Com a atenção do surdo
Falar com os olhos e as mãos como fazem os mudos
                                                (Diário de Cazuza- 1978)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Aos perdidos

Sigo calmo e lento
Com minhas próprias idéias, pensamentos, histórias, convicções e loucuras
Levo comigo verdade ditas, feitas e inventadas, ao menos imaginadas
Minhas críticas e meus anseios
Um violão
O cigarro
A seda
Uma barraca
Mochila
...
Como eu
Há vários loucos pelo caminho
Uns simplesmente passam
Outros me acompanham por um tempo
Muitos se vão
Uns despertam desejos, vontades, curiosidades
Outros realizam e possibilitam a realização
Uns dão idéias erradas
Outros tiram
Uns reclamam, criticam, surtam, grilam
Outros fumam a perninha de grilo
Há quem cante
Toque
Represente
Atue
Beba
Milite
Ilumine
Há também os caretas
Há sonhadores
Céticos
E uma longa estrada que pode não levar a lugar nenhum
A lugar terrivel
A lugar maravilhoso
A lugar horrivel
Há ainda muitos postos de gasolina
Hippies
Caminhoneiros
E claro a polícia

Obrigado a cada pessoa que já cruzou comigo por essa estrada
Em especial, aos perdidos que comigo se encontram até hoje.

Assim como tantos outros

Às vezes cansa
Cansa sim, mas só às vezes
Por vezes até muito
Então... Por quê não párar?
Simplesmente por fetiche
Sim, é prazeroso
Há algo de masoquismo nisso
Sou escravo
Sou usado
Sou instrumento
Sou nada
Sou tudo
Vazio
Pleno
Busco
Busco em mim
Transponho
Externalizo
Seja na rua
No palco
Na cochia
Na cama
Na cabine
Na platéia
Na chuva
Na fazenda
No bar
Sou eu mesmo e todos
Todos e ninguém
Assim como tantos outros
Artistas
Poetas
Atores
Historiadores
Maconheiros (pleonasmo?!)
Hippies (de novo?!)
Boêmios
tantos outros operários deste Brasil
Independente do seu ofício, carreira ou arte
Um viva a todos que vivem pra qualquer viagem
Vivem sua expressão sem estar preso a um papel

Silêncio em meu quarto

Há café sem açucar
Teatro sem arquitetura
Viagem sem bagulho
Riso sem porquê
Poeta não letrado
Ator sm papel
Escola sem professor
Estrada sem hippie
Madrugadas sem boêmios
Dramaturgia sem literatura
Fábricas sem operários
Gatos sem lar
Cigarro sem isqueiro
Paz sem voz
Música sem barulho
Dança sem par
Livros não lidos
Casos esquecidos
Noites interminaveis
Camarão sem seda
Frio na cama
Silêncio em meu quarto

você não precisa de colírio nem de óculos escuros...

Você não precisa ter um emprego e ser infeliz
Não precisa de dinheiro, nem de estabelecer parcerias
Não precisa ser consumista
Não precisa tirar boas notas nem se formar
Não precisa ser egoísta
Não precisa sentir dor
Não precisa ser destruidor
Não precisa causar dor
Mão precisa alizar o cabelo nem usar maquiagem
Não está condenado à triteza, ao ócio, à infertilidade ou solidão
Tão pouco à compaixão e/ou falsidade
Não precisa se submeter a qualquer poder nem crença
Não precisa lutar para sobreviver
Não precisa do carro do ano nem de tantos hectares de terra
Não precisa do que não é seu nem do que é
Como já cantava Noel Rosa: "Já te dei papel e lapis arranja um amor e um violão"